Matéria original da Revista Crescer.
Onde você estava em março de 2020, quando soube que iria começar a quarentena no Brasil? Com certeza nem nos seus maiores sonhos – ou pesadelos – imaginaria tudo o que viria pela frente. Mas cá estamos nós, um ano depois. Muita coisa já melhora, temos um processo de vacinação em curso e novas perspectivas, ainda que a passos lentos.
Fato é que essa vida diferente a que fomos expostos de uma hora para a outra teve efeitos positivos e negativos para adultos e crianças. “Para elas, o impacto de estarem isoladas, com os pais tensos e ansiosos, é grande e profundo, porém, é fundamental que possamos olhar para esse momento e aprender. Aprender a valorizar quando pudermos nos abraçar; valorizar a simples rotina de ir para a escola; de conviver mais intensamente em família”, reflete a psicóloga Camila Cury, fundadora do Programa de Educação Socioemocional da Escola da Inteligência (SP). É importante enxergar o momento também como uma oportunidade que gerou possibilidades de filhos e pais estarem mais próximos, por exemplo. Quem aí teve a chance de acompanhar de perto os primeiros passinhos do bebe?
É certo que não somos os mesmos de um ano atrás – muito menos nossos pequenos. E isso traz consequências, algumas boas e outras, nem tanto. “Um ano na vida de uma criança é muito diferente de um ano na vida de um adulto. O cérebro dela tem janelas de oportunidade, está ávido por adquirir novas habilidades. O desenvolvimento infantil é altamente dependente do meio externo. Se ela fica limitada ao ambiente da casa, interagindo apenas com poucos adultos que, muitas vezes, precisam trabalhar e não consegue se dedicar integralmente a ela. Será privada de estímulos. E essa privação pode levar, em casos extremos, claro, a um atraso no desenvolvimento”, afirma a neuropediatra Luciane Baratelli, da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro.
Vimos isso na prática. Um estudo das Faculdades Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), feito com mais de 1,9 mil famílias, com crianças entre 2 e 12 anos (de todos os estados do Brasil), mostrou que 100% delas tiveram ao menos uma mudança de comportamento durante o isolamento social seja referente alimentação, a interação social, ao comportamento, seja ligada ao sono. “As crianças ainda sentirão por algum tempo o impacto da pandemia, do afastamento escolar e da falta de convivência. Pais e educadores devem estar atentos a alterações de comportamento. Precisamos acreditar que a saúde mental delas pode estar em sofrimento e precisando de ajuda, para intervir o mais precocemente possível”, diz a pediatra Loyola Presa, uma das pesquisadoras a frente do estudo.
Então, como estar atento a essas mudanças? Um estudo do hospital pediátrico da Escola de Medicina da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, com mais de 2 mil famílias, de crianças e jovens de 0 a 18 anos, revelou os principais medos dos pais em relação aos filhos na pandemia: o excesso de tempo na frente das telas e das redes sociais, o aumento de hábitos não saudáveis de alimentação,еfalta de atividades físicas, estresse, ansiedade e risco de depressão.
Isso mostra que diversos pontos merecem atenção e variam de família para família. Cada um deve buscar formas criativas de aliviar a tensão emocional o máximo possível. “Comece desligando os noticiários e sintonizando as ideias com algo mais positivo. Diminua o estimulo eletrônico em casa, pois a exposição as telas intensificam o estresse e a falta de concentração da criança. O movimento livre é uma excelente forma de fazer com que pensamentos negativos se reorganizem. Então, que tal todos fazerem uma aula de dança em casa? Desenhar uma amarelinha com fita adesiva no chão para o pequeno gastar a energia quando precisar? ” Sugere a educadora parental Aline De Rosa, criadora do programa Acolhedora de Mães (SP).
A pandemia tem, sim, consequências ruins, infelizmente. A própria covid-19 é terrível em muitos casos. Mas, quando falamos de educação e vida em família, percebemos tantas questões valiosas…. Precisamos decidir qual é a lente que usamos para enxergar a vida, o quanto de energia colocamos nos pontos positivos e nos negativos. Então, a proposta aqui é fazer um balanço das lições dessa pandemia e enfrentar o saldo disso. A seguir, um material para nos provocar reflexões e planejar nossas próximas ações.
Ter autonomia e independência.
Ser mais participativa e casa
Ganhar mais presença dos pais
Aprender novas regras
Entender a importância de coletivo
Perceber que vinculo e mais do que morar juntos
Estar mais presente na rotina das crianças
Entender melhor a metodologia da escola do filho
Ter a consciência clara de que são o maior exemplo para os pequenos
Compreender que não podemos controlar tudo, mas controlamos nossas próprias escolhas
Os impactos
Sabemos de cor que é importante para um bom desenvolvimento da criança ambiente acolhedor e estimulante, adultos cuidadores atenciosos, livre brincar, convivência com seus parentes, contato com a natureza, alimentação equilibrada, sono restaurador. Se muitos desses aspectos foram tirados dos pequenos nesse período, é natural que se vejam resultados aquém do esperado. Ao mesmo tempo, a possibilidade de passar mais tempo com os pais em casa trouxe até alguns avanços.
Segundo o pediatra Daniel Becket Rio de Janeiro (RJ), algumas crianças que estavam em casa em harmonia, com pais que conseguiram se organizar na quarentena para dedicar tempo a elas, mantendo a tranquilidade, o afeto e convívio saudável entre o casal e os filhos, tiveram desenvolvi mento espetacular. “Aquelas que não falavam, por exemplo, passaram a fazer isso. Mas a maioria, mesmo tendo conquistas sofreu com sintomas psíquicos, alterações de comportamento, desde distúrbios de apetite, seletividade excessiva, recusa ou compulsão alimentar, agressividade, irritação, birras e ficaram grudadas nos pais”, afirma.
O especialista ainda alerta para casos de regressão de comportamento, como crianças que estavam já sem fralda e voltaram a usá-la, além de tiques, gagueira e dificuldades escolares. “São sintomas que vão se agravando ao caminhar para a introspecção excessiva, recusa de vivenciar as atividades em família, de sair, de participar da aula online, de ver os avós, de encontrar amigos… até chegar na depressão, que vimos um bocado também”, afirma.
Próximos passos
Uma vez que seja observado um atraso (lembre-se, você não está sozinho nessa!), a criança deve ser estimulada. É importante ter um profissional acompanhando, ou seja, converse sempre sobre isso com o pediatra. Quanto aos estímulos, vão variar de acordo com a idade e a finalidade, mas englobam as vivências no dia a dia o olho no olho, as brincadeiras ao ar livre e o contato com a natureza, tomando sempre cuidado com aglomerações (a pandemia segue seu curso ainda). Se sentir dificuldade, não hesite em procurar o apoio de profissionais especializados, como fonoaudiólogos fisioterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais.
Os impactos
Uma pesquisa do Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra mostrou que uma em cada seis crianças apresentou problemas emocionais na pandemia. Parte disso é reflexo do clima que os pequenos vivem em casa. “Nas famílias em que os pais estão muito ansiosos ou ambiente anda estressante demais, eles, por consequência, ficam ansiosos e isso compromete o emocional”, diz a pediatra Ana Escobar, colunista da CRESCER.
Porém, outros fatores, como o fechamento das escolas, privação do convívio social e morte de familiares também elevaram o nível de estresse nos pequenos. Alguns estão inclusive, com dificuldades de se relacionar com outras crianças e até de confiar em adultos – reflexo da ideia que o outro representa perigo (pela contaminação). Tiques nervosos, como roer a unha, cutucar a pele, morder a bochecha e ranger os dentes entram na lista de sintomas.
Segundo a neuropediatra, Luciane Baratelli de Niterói (RJ), esse cenário pode gerar um estresse tóxico, com aumento persistente do cortisol (hormônio ligado ao estresse). “Sabe-se que o principal protetor da saúde mental das crianças em situações de estresse é o apoio familiar.
Quando a criança recebe cuidados e afeto de adultos que passam a ela sensação de segurança, o organismo consegue se reorganizar e voltar a ter um funcionamento normal. Já nos casos em que esse suporte é ausente ou inadequado, ela passa a ter um aumento prolongado do cortisol que lesa circuitos neurais em desenvolvimento e aumenta o risco de apresentar atraso no desenvolvimento de pressão e transtornos de conduta no futuro”, afirma.
Próximos passos
Claro que não temos de esconder nossos sentimentos dos filhos. Todos tivemos de enfrentar perdas e mudanças, o que pode gerar ansiedade, medo e tristeza. Mas é preciso ter um olhar cuidadoso na maneira como traduzimos isso às crianças. “É fundamental a comunicação adequada com os filhos, explicando a situação pela qual estamos passando de forma objetiva e clara, de acordo com cada faixa etária. Nesse momento, eles necessitam de rotina, segurança, estabilidade e compreensão. Vale criar junto com a criança estratégias para ela lidar com os sentimentos, e ensiná-la de fato reconhecer nomear as emoções”, orienta a psicóloga Mariana Bonsaver do Hospital e Maternidade Pro Matre em São Paulo (SP).
Além do diálogo constante, livros infantis e brincadeiras de faz de conta são bons aliados para ajudar os pequenos a entender o que sentem.
Com Acolhimento e orientação dos pais, tudo pode se transformar em resiliência e adaptação. Um exemplo está nas datas comemorativas, como a ausência da tão esperada festa de aniversário. “Em vez de diminuir ou ignorar o sentimento dela, dizendo que é só uma comemoração, diga que entende a tristeza dela. Ou seja, o importante é menos a festa em sie mais o sentimento dos pais”, diz a educadora parental Aline De Rosa, São Paulo (SP). Ofereça alternativas para seu filho, como uma festa do pijama só de vocês, com direito a um acampamento na sala!
Os impactos
Como nunca antes, colocamos um holofote no papel do brincar. Que bom! Afinal, ele é a linguagem criança, é como ela compreende o mundo à sua volta. Mais do que isso, nesta pandemia, a brincadeira salvou o emocional de muitas famílias. Em dois aspectos: enquanto a criança brinca, os pais podem trabalhar ou se dedicar as tarefas da casa com mais tranquilidade. Além disso, a diversão promove conexão entre filhos e pais.
E a falta que fez estar ao ar livre? A natureza é o lugar em que o ser humano se sente melhor, seja criança, seja adulto. Sentimos na pele a ausência desse espaço – tanto na deficiência de vitamina D quanto na energia acumulada dos pequenos.
Próximos passos
Os pais perceberam a importância de encher o pote de atenção do filho – e do quanto a brincadeira é um dos principais ingredientes para isso. Quando está suprido de carinho, o pequeno faz menos birras e fica mais tranquilo. Mas isso não significa ter de virar um recreador de buffet infantil e entreter seu filho o tempo todo. O tedio é importante também. E no ócio criativo que a criatividade acontece. Equilíbrio e tudo!
Quanto ao contato com natureza, o que fica é a valorização ainda maior do cuidado com o meio ambiente e sua potência na nossa vida. “Ficou claro para todo mundo a importância das experiências ao ar livre para a criança, e como ela melhorou depois de sair um pouco de casa. Pessoas que conseguiram viajar, passar um fim de semana numa casa alugada, num sitio, relatam como é impressionante a resposta dos pequenos. Cem por cento deles voltavam muito melhores. O mesmo ocorreu com crianças levadas a praça ou ao clube para fazer uma atividade ao ar livre. A resposta foi muito impressionante, relata o pediatra Daniel Becker.
Moral da história: sempre que possível proporcione atividades ao ar livre para o seu filho – com todos os cuidados, claro. E ainda que você não tenha como levar a praia, ao parque ou ao sitio, lembre-se que a natureza está sempre perto, nos detalhes, como fazer e cuidar de uma horta, pisar na grama, pegar na terra, sentir as texturas diferentes das folhas, escalar árvores, tomar sol ou sentir a brisa de um fim de tarde.
Os impactos
Pandemia sem rede de apoio, tendo de cuidar de casa, criança e trabalho. É natural que você não dê conta de tudo. E quer saber? Está tudo bem! É preciso priorizar aquilo que gera bem-estar para a família, muitas vezes, só acontece quando há envolvimento de todos. Uma das grandes lições da quarentena foi a importância da divisão de tarefas domesticas não só entre o casal, mas inserindo as crianças também.
Antes do isolamento a maioria delas ajudava pouco ou quase nada. Os pequenos mal sabiam o que precisava ser feito para manter a casa limpa, organizada e funcionando.
Próximos passos
As crianças aprenderam que as coisas em casa não acontecem sozinhas. Na nossa cultura, elas não ajudam tanto, diferente do que vemos fora do país, onde nem todo mundo pode pagar um funcionário doméstico. “Houve uma mudança de postura que seria bom manter. Crianças devem ser mais participativas em casa E os pais precisam entender como isso e importante para elas”, diz a pediatra Ana Escobar, colunista da CRESCER. Por isso, continue inserindo o pequeno nas atividades domésticas, de acordo com a idade e a maturidade de dele. Dá até para ser divertido! Nos dias de mais bagunça, combine um mutirão em família antes do jantar (quase uma gincana) para irem dormir com tudo organizado. E estabeleça prioridades. “Se tiver de escolher entre lavar a louça ou sentar para brincar com seu filho, avalie: pote de amor dele está vazio? Sente para brincar. Está tudo bem? Convide-o para ajudar na tarefa. São pequenas escolhas diárias que cada pai e mãe deve fazer para equilibrar as demandas e prioridades da rotina familiar”, afirma Aline De Rosa
Os impactos
Nunca se olhou tanto para a saúde, para o papel da ciência, das vacinas, do se cuidar em prol do outro como hoje. E isso os pequenos vão levar para a vida toda. Aliás, no que diz respeito aos hábitos de higiene, muitos deles mostraram saber lidar bem melhor do que nós. Você vê as crianças usando máscara tranquilamente na maior parte das vezes São poucas as que a arrancam – diferentemente dos adultos” diz o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Cientifico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Próximos passos
Higiene nunca é demais, e manter os bons hábitos adquiridos é fundamental. Não deixe que o seu filho perca esse olhar. Se Ele o está aprendendo agora (afinal, quantos bebês do começo da pandemia estão completando 1ano?), oriente sobre a lavagem correta das mãos, invente músicas ou cante os parabéns inteirinho com ele nessa hora. Continue mantendo uma caixa para deixar os sapatos na entrada de casa, assim fica fácil a criança saber onde colocá-los quando voltam da rua. Procure máscaras confortáveis e apropriadas ao tamanho do seu filho, assim ele não precisa ficar colocando a mão para arrumar “É o que chamamos de alfabetização sanitária, e esse é um legado interessante que deve ficar da pandemia, tanto para crianças como para adultos, diz o infectologista Kfouri.
Os impactos
Lidar com choro, birra, agressividade, medos, vídeo game, hora para dormir… Muitos dos nossos conceitos de limites e de controle das emoções tiveram de ser revistos “Adultos, crianças, adolescentes. Todos precisaram se reinventar rever rotinas, acordos e atitudes”, afirma a consultora em educação Beto Rodrigues, treinadora de Disciplina Positiva da Positive Discipline Association dos Estados Unidos.
Afrouxamos regras, permitimos em alguns momentos que as crianças dormissem mais tarde, almoçassem em frente à TV ou comessem aquela guloseima. Afinal, temos mesmo de escolher as batalhas diárias. Mas o campeão de limite ultrapassado provavelmente tenha sido, em muitas famílias o volume de telas. Tanto que, segundo pesquisa realizada do Hospital JK Lone, em Jaipur, na índia, 65% das crianças estilo viciadas em eletrônicos e sio incapazes de manter distância deles mesmo que por 30 minutos.
Próximos passos
O uso da tecnologia está aí, foi o que permitiu manter nosso trabalho, rever parentes e amigos, comemorar aniversários, fazer consultas medicas e as aulas on-line das crianças. Estamos aprendendo cada vez mais que travar uma disputa com os gadgets na rotina dos pequenos não é o caminho. O desafio que continua e ensina-los de maneira saudável (e observar como nós mesmos lidamos com eles), mostrando a importância de outras atividades essenciais, como brincar, se exercitar, ler um livro impresso e ter momentos ao ar livre. Já sobre nossos parâmetros de limites revistos, não adianta ser radical, afinal não sabemos quando poderemos ter uma rotina perto de como era antes, então, novamente, busque o meio-termo. Flexibilizar pelo bem da nossa saúde mental, mas ainda com combinações claras para as crianças. Assim, chame seu filho para uma conversa, diga que você quer ouvi-lo para então, pensarem juntos em soluções. Quando a criança é valorizada, se sente parte daquilo e tende a colaborar muito. Estabeleçam os combinados e os cumpra.
Os impactos
Talvez seja um dos campos mais afetados na pandemia e o que mais influenciou na rotina e na sanidade mental de todos. Ter os pequenos arrancados do ambiente escolar, do aprendizado presencial, do convívio naquele local que é deles, por natureza, mexeu com a cabeça de filhos e pais. Muitas crianças perderam o interesse pelos conteúdos, estão com dificuldades no aprendizado, sem motivação.
Por outro lado, há famílias mais atuantes no aprendizado do filho e na relação de parceria com a escola, ser contar a valorização muito maior (por parte dos pais) do papel do professor e de todos os desafios que é educar uma criança.
Próximos passos
O tema divide opiniões. Algumas famílias se adaptaram às aulas online e acreditam que ser o caminho a seguir, outras não querem nem ouvir falar nesse modelo. O mesmo acontece com profissionais da educação. “Para mim, fica de lição que o presencial tem de ser algo além dos conteúdos e cobrança por resultados. Isso o online pode fazer, até sem professor. Também permanecem as possibilidades que se abrem com o digital, a versatilidade, a agilidade e o espaço para a diversidade das formas de expressão”, diz Ligia Mori, diretora pedagógica da Escola Nossa Senhora da Graças, o Gracinha, em São Paulo (SP).
Já para o educador Marcelo Cunha Bueno, diretor da escola Estilo de Aprender (SP) e colunista da Crescer, não há saldo positivo no aprendizado à distância. “A experiência da aula online veio colada à anulação do convívio social, à pandemia, ao medo. Antigamente, se pensava que o ensino online substituiria o presencial, agora vimos que isso nunca vai acontecer. Será um complemento para quem quiser. Hoje não vejo nada de favorável disso. Talvez daqui a alguns anos, afastado desse clima de pandemia, eu consiga fazer uma análise mais crítica e encontrar pontos positivos”, reflete.
Para a psicopedagoga Quézia Bombonato, conselheira vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedagogia, é possível tirar proveito da situação: “O formato digital tem características, como foco, persistência e determinação, relevantes para a aprendizagem. Se os educadores se apropriarem desses conceitos e os aplicarem em suas atividades, os alunos poderão desenvolver competências socioemocionais e comportamentais para dar conta das transformações que estão ocorrendo na nossa sociedade”.
Os impactos
Mesmo antes da pandemia, elas já dedicavam o dobro de horas semanais ao trabalho doméstico e/ou aos cuidados com outras pessoas, se comparadas aos homens, segundo dados do IBGE. A pandemia foi vivida e sentida de maneira diferente por pais e mães. Segundo pesquisa realizada pela Filhos no Currículo, em parceria com o Movimento Mulher 360, sobre a experiência do home office na pandemia, metade dos pais achou “fácil” ou “muito fácil” conciliar filhos e carreira, enquanto apenas 33% das mães tiveram a mesma percepção. Ou seja, a divisão de tarefas injusta ou inexistente e a sobrecarga delas ficou mais evidente. Por outro lado, muitos homens viram, na prática, como é a realidade e passaram a desempenhar de forma mais ativa seu papel de pai. “Os casais tiveram momentos de discussões profundas, que os fez crescer no relacionamento ou repensar a situação conjunta. Essa experiencia trouxe aprendizados em todos os aspectos e precisamos consolidá-los para um futuro melhor”, diz a pediatra e neonatologista Clery Gallacci do Hospital e Maternidade Santa Joana em Sao Paulo (SP). Outro ponto de destaque com escolas fechadas e falta de rede de apoio, as mulheres estão considerando tirar uma licença ou sair do trabalho. Segundo o IBGE, a participação feminina no mercado de trabalho e a menor de 30 anos.
Próximos passos
Se, mesmo com essa luz que a pandemia jogo na carga mental das mulheres, você ainda sente que o peso maior continua nos seus ombros, abra espaço para um diálogo franco com quem divide a casa e a vida, sobre tarefas domésticas, cuidados com as crianças e jornada de trabalho. O que não dá para viver esgotada, tentando dar conta de tudo, se frustrando porque não consegue se dedicar ao trabalho e nem as crianças. Marque, na agenda, se for preciso um horário para essa conversa depois que as crianças dormirem, façam ajustes de maneira que fique bom para ambos. Toda a família ganha com um ambiente harmônico. E se você está no time de quem anda pensando em abrir mão do trabalho, saiba que não precisa ser assim a não ser que deseje. Busque modelos que conciliem sua necessidade à do mercado, como o staff loan (novo conceito de trabalho temporário em que a empresa faz um empréstimo de funcionários de outras corporações) por exemplo. Se a opção for continuar no emprego em que esta converse com seus supervisores sobre possibilidades de mais flexibilidade e sugira soluções.
Os impactos
Avida social das crianças antes da pandemia era farta de possibilidades: escola, cursos extracurriculares, parquinho, programas culturais, casa da avó, dos amigos. De repente, nenhum outro contato além dos pais. Muitas até se acomodaram nas aulas on-line com câmera fechada. “Na volta a socialização, os pequenos mais introvertidos poderão ter um desafio ainda maior. Vejo muitos que estão adorando ficar em casa. Mas com o tempo, vão se readaptar”. diz pediatra Ana Escobar.
Próximos passos
Família e escola devem estar preparadas para lidar com a ressocialização, agora, com máscara e álcool em gel e algum distanciamento. E estar atentas aos pequenos que demonstrarem medo e angústia. Assim como a readaptação as aulas presenciais ainda que em esquema híbrido, a volta ao convívio com amigos e familiares quando a pandemia passar vai exigir esforços das crianças e dos adultos. Não subestime qualquer dificuldade do seu filho nesse sentido, converse, pergunte o que ele está sentindo e pensem juntos em soluções. É importante respeitar as particularidades de cada criança. As que sofreram maior impacto psicológico ou social diante dessas mudanças devem ser acompanhadas por profissionais. “As crianças tem grande capacidade de adaptação. Esperamos que com a volta da escola presencial, recuperem a socialização facilmente”, diz Ana Escobar. Mesmo as bem pequenas que não conviveram com ninguém além dos pais, podem até estranhar no início, mas com paciência, vão acostumar com outros rostos e colos. Tudo questão de tempo.
Agora nos conte: e para você, o que vem pensando mais depois de ler sobre esses impactos que a pandemia nos impôs? Uma coisa é certa: reconhecer as mudanças e seus efeitos na nossa vida facilita traçar estratégias para enfrentar os desafios que ainda temos pela frente. Com clareza, força e esperança. Vamos nessa?
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