O período de volta às aulas sempre traz uma dose, maior ou menor, daquele friozinho na barriga. Depois de um tempo de descanso, com regras mais frouxas, a família tem de enfrentar a velha – ou, em muitos casos, nova – rotina, com agenda cheia e horários rigorosos. Sem falar nos preparativos para que tudo funcione, do uniforme em dia ao cardápio do lanche. Não é à toa que, de acordo com uma pesquisa feita nos Estados Unidos por uma empresa farmacêutica com mil pais e mães, oito em cada dez demonstraram algum nível de ansiedade nessa época – sendo que 47% disseram ter mais trabalho do que nas festas de fim de ano. Alguém se identifica?
Para que você também foque no essencial, sem se perder em meio a tantos compromissos pelo caminho, fizemos uma lista com as 16 melhores dicas para um retorno às aulas mais tranquilo. Confira!
E isso vale para todos os moradores da casa, incluindo as crianças. Ao fim das férias, reforce para que o seu filho dê uma mão em algumas atividades domésticas. Uma ou duas semanas antes do retorno aos estudos, lembre-o que agora a vida está ficando “séria” outra vez, ou seja, é preciso deixar a casa em ordem. O que significa guardar os brinquedos, tirar os pratos da mesa no fim da refeição, arrumar a cama, entre outros afazeres, de acordo com a idade dele – a partir dos 2 anos, a criança pode ajudar com os brinquedos; com 4 anos, já pode colocar as roupas sujas no cesto; com 6, pode ajudar a arrumar a cama, por exemplo. A personal organizer Rafaela lembra que é importante manter uma constância para que a atividade se torne um hábito. “Isso vai aliviar a carga dos pais e, ainda, fazer com que seu filho aprenda a ser mais organizado”, diz. Ganham todos!
2. Sono e alimentação nos trilhos
E por falar em antecipar, o ideal é voltar à rotina alguns dias antes do início do ano letivo. Isso significa que tanto o sono (incluindo as sonecas) quanto a alimentação das crianças já devem estar normalizados quando as aulas começarem, aconselha a pediatra Daniela Piotto, do Fleury Medicina e Saúde (SP). “Tem gente que quer aproveitar até o último minuto, mas a recomendação é que a criança tenha pelo menos uma semana para se ajustar aos horários e não começar as aulas cansada”, explica.
3. Corre-corre organizado
Acordar, escovar os dentes, tomar café, colocar o uniforme, preparar o lanche… São muitas as tarefas que filhos e pais têm de fazer logo cedo. Para não se atrapalhar, o jeito é deixar o que puder já pronto no dia anterior (como a mesa posta parcialmente e a mochila arrumada, por exemplo). É o que faz a auditora Karla Cabral, mãe de Enzo, de 1 ano e 9 meses, que estuda em período integral. “Quando ele acorda, estou pronta para o trabalho e tudo em casa já está preparado. É só comer, trocar de roupa e ir para a escola”, diz. Para dar conta, ela costuma sair da cama uma hora antes do menino.
Lance mão de aplicativos para facilitar o dia a dia, especialmente nessa época tão atribulada de retomada do ano letivo. Para começar, que tal buscar um que faça comparação de preços – como o app do site Buscapé – na hora da compra do material escolar? Se precisa de ajuda na organização, o Todoist é uma ferramenta que gerencia listas de tarefas, que podem ser sincronizadas entre diversos dispositivos, como smartphones, computadores e tablets. As aulas nem começaram e você já está com a cabeça cheia de preocupações? Vale procurar, então, um app de meditação guiada, como o Simple Habit. Todos são gratuitos e disponíveis para Android e IOS.
Não bastasse essa “maratona” todas as manhãs, pode ser que você ainda tenha de lidar com o chororô do seu filho. Os motivos variam. Ele pode se recusar, por exemplo, a levantar da cama, a colocar o uniforme e, principalmente, a realizar tudo no tempo dos adultos. “Para que ninguém se atrase, é comum os pais fazerem tudo pela criança”, diz a psicóloga Mariana. Mas saiba que envolver seu filho pequeno no processo aumenta as chances de ele colaborar – isso significa deixar que ele faça, com supervisão e aos poucos, coisas que já consegue por si próprio. Se a birra continuar, vale uma conversa com os professores para investigar se não aconteceu nada na escola, como uma briga com um colega, que o tenha aborrecido.
Material devidamente etiquetado, família alimentada, mochila pronta. Não falta mais nada, certo? Sim, falta o registro! Algumas famílias têm o hábito de tirar uma foto do primeiro dia de aula, todos os anos. Pode ser em casa ou na porta da escola. “Além de ser uma bela recordação, transmite uma mensagem de que esse dia deve ser comemorado”, explica a psicopedagoga Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). Focar no lado bom da volta às aulas, como celebrar e marcar a data, matar a saudade dos colegas e a possibilidade de fazer novos amigos, segundo a especialista, é a melhor maneira de tornar a transição mais leve para as crianças.
7. Reforço positivo
E já que se trata de um dia especial, com todos envolvidos nos preparativos, nada mais adequado do que uma roupa nova para acompanhar, não? Como a maioria das crianças usa o uniforme da escola no dia a dia, pode ser um tênis, meia, calcinha/cueca diferente ou outro acessório, desde que comprado especialmente para a volta às aulas. Uma medida simples, mas marcante.
8. É verdade este bilhete
Crianças menores podem sofrer mais com a distância de casa. Para amenizar a saudade, faça um desenho (ou cartinha, caso seu filho já saiba ler) especial para colocar na lancheira. Assim, ele vai ter uma surpresa gostosa na hora do recreio! A pediatra Daniela recomenda também que a criança, especialmente aquela que vai para a escola pela primeira vez, leve o que os especialistas chamam de objeto de transição. Pode ser um brinquedo, uma pelúcia, a “naninha”, enfim, algo trazido de casa que seja um substituto da presença dos pais e dê segurança.
9. Galeria de arte
Em breve, seu filho vai trazer para casa parte dos desenhos que produz na escola. Para que ele se sinta valorizado, o que vai ajudar na adaptação, escolha uma parede para pendurar as principais “obras” dele. Elas podem ganhar destaque ainda maior se você usar adesivos em forma de moldura (e colar os desenhos no centro) ou molduras de madeira, mas sem o vidro.
As aulas já começaram e as coisas parecem fluir bem. Mas o seu filho fala pouco sobre o que está acontecendo por lá. O que fazer? Claro que você pode conversar diretamente com professores e educadores, porém, se quiser ouvir também da boca do pequeno, mude as perguntas. Para a psicopedagoga Isa Minatel, autora de Crianças sem Limites(Editora Chiado Brasil), o caminho é ser mais direto, sempre com destaque aos sentimentos: alguma brincadeira deixou você feliz? Alguém fez você chorar? Aconteceu alguma coisa que fez você ficar bravo? “A emoção é a cola da memória. Então, basta que os adultos provoquem esses ‘gatilhos emocionais’ para despertar as lembranças”, resume.
Aproximar-se de outros pais da escola, aqueles que você vai encontrar em festas e eventos, também é importante para dividir as angústias. Vocês estão no mesmo barco, afinal. Tanto que, no Colégio Oswald de Andrade (SP), por exemplo, a direção promove uma reunião de acolhimento para os novos pais antes do início das aulas. Nesse encontro, aqueles que já têm filhos que estudam na instituição são convidados a compartilhar suas experiências. “Conhecer o espaço, as pessoas e as outras famílias que fazem parte da escola é fundamental para deixar todo mundo mais tranquilo”, explica a pedagoga Nana Giovedi, diretora da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I da instituição. Que tal convidar mães e pais para um café e tornar isso um hábito ao longo do ano?
A correria não pode ser desculpa para o seu filho comer guloseimas no lanche todos os dias, seja em casa, seja na escola. Priscila Maximino, do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi (SP), reforça que o segredo é planejamento. No quesito praticidade, ela lembra que as frutas in natura são a melhor opção: deixe tudo higienizado com antecedência na fruteira ou na geladeira.
Também dá para preparar pães e bolos caseiros nos finais de semana e congelar tudo em porções individuais. Já pastas e patês (de ricota, azeitona, frango etc.) duram de três a quatro dias sob refrigeração. E ninguém está proibido de comprar alimentos industrializados vez ou outra, ressalta a especialista.
A conexão entre filhos e pais é a base para uma boa adaptação escolar, do berçário ao ensino médio. “Quando esse vínculo é saudável, as crianças têm mais facilidade para lidar com mudanças, adversidades e estresse”, afirma a psicóloga Isa Minatel. Daí a importância de cultivar momentos que favoreçam essa ligação, que pode ficar em segundo plano por conta das agendas lotadas dos adultos e até mesmo das crianças. Pode ser um filme no fim do dia, fazer um bolo no domingo, ler uma história antes de dormir. “Esse tempo a sós com o seu filho (e longe do celular!) vai se tornar inesquecível”, completa Mariana Paz.
A volta às aulas pode aumentar as dores de cabeça, literalmente, entre as crianças. É o que mostra um estudo feito pelo Nationwide Children’s Hospital, da Universidade Estadual de Ohio (EUA), com aproximadamente 1,3 mil jovens de 5 a 18 anos. Os cientistas apontam que os motivos vão desde estresse, uso excessivo de telas a noites maldormidas – e até mesmo hidratação inadequada. Para evitar o problema na sua casa, a psicopedagoga Quézia, da ABPp, sugere que os pais ajudem os filhos a organizar uma agenda de estudos focada. O que inclui um cantinho arejado e bem iluminado para fazer as lições. “Sem esquecer, claro, do tempo livre para aproveitarem como quiserem. Do contrário, as crianças vão apenas cumprir tarefas no automático, em vez de aprender a tomar decisões sozinhas”, diz.
Inúmeros estudos mostram os benefícios das refeições em família. Uma das pesquisas mais recentes sobre o assunto, feita pela Universidade de Montreal (Canadá), por exemplo, mostrou que as crianças que rotineiramente reuniam-se à mesa com os familiares eram mais ativas e consumiam menos alimentos gordurosos, além de serem menos agressivas. Por isso, na volta às aulas inclua o hábito de fazer pelo menos uma refeição ao dia com todos da casa. E, naquele momento, nada de cobrar a lição, falar do trabalho escolar pendente ou dar bronca por causa do boletim. Isso vai desviar o foco não apenas dos alimentos, como também dessa oportunidade de troca em família.
Sim, aquele friozinho na barriga é esperado nesse período. Se notar que o seu filho está ficando nervoso além da conta, reforce que ele pode contar com você sempre. Na primeira semana (ou semanas, dependendo da adaptação do pequeno), fique de sobreaviso no trabalho, já que você pode ter de voltar à escola para buscá-lo no meio do expediente. Outra dica é contar para o seu filho como era na sua época, enfatizando que é normal sentir medo. “As crianças adoram os relatos dos adultos. E essa atenção especial vai mostrar a elas que os pais estão ali não por obrigação, mas porque têm prazer em acompanhar o desenvolvimento delas”, diz a psicóloga Mariana. E se, mesmo após esses ajustes todos, você também continuar com o pé atrás, dê tempo ao tempo para a rotina se encaixar. “Mar calmo não faz bom marinheiro”, lembra a psicóloga Isa Minatel, citando o ditado popular. “As adversidades servem para nos fortalecer”, completa. O que vale tanto para você quanto para o seu filho
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